sexta-feira, 14 de março de 2008

Camacho: Salir sin ganar


Em Agosto de 2007 escrevi aqui mesmo «Camacho não poderá pedir tempo, terá de apresentar resultados».

Sete meses volvidos os factos validaram esta tese.

Camacho regressou ao Benfica, para gáudio dos seus adeptos, como um Sebastianista em manhã de nevoeiro.

As "ganas" que o treinador murciano conseguiu imprimir na equipa na sua primeira passagem pelo clube da luz entre 2002/2003 e 2003/2004 seriam, na opinião de muitos, o tónico de que a equipa necessitava depois de um Benfica formatado à imagem de Fernando Santos, vistoso mas inconsequente nos momentos chave.

Camacho chegou com um discurso ambicioso e claro. O objectivo passava por ser campeão.

É certo que o técnico espanhol poderia não ter um plantel construído à sua imagem mas, ao contrário de Trapattoni, não teve o mérito de se resignar com as peças de que dispunha e de as explorar ao limite das suas capacidades.

Nem só de vitórias vive um clube como o Benfica, há a "chama imensa" que a voz de Luís Piçarra entoa e com Camacho até essa chama foi extinta.

A imensidão do Benfica que foi a força propulsora para Camacho mas foi também a sua força opressora quando os resultados não surgiram. É a muito citada mas pouco explicada mística.

No Benfica, ao deficit colectivo que tem sido uma constante nos últimos anos, pautado a espaços por talentos individuais decisórios, juntou-se uma inércia, um desacreditar que perpassou dos relvados para o público.

Camacho passou a ser vítima do seu discurso agressivo e das terapias de choque que foi infligindo ao criticar a atitude da equipa, a falta de mentalidade, a banalidade de alguns jogadores não condescendes, nas suas palavras, com a grandeza do clube.

Á medida que passou a justificar os desaires monossilabicamente pela falta de atitude dos jogadores Camacho distanciou-se da equipa, deixou de ser a voz de comando dentro do balneário. O Benfica, enquanto equipa de futebol, passou de individualidades num colectivo para um colectivo resumido às suas individualidades.

O Benfica deixou de ser uma estrutura coesa para passar a ser um conjunto de jogadores estanques, com margem de manobra reduzida a um esquema táctico rígido que penalizava os jogadores pois não se adequava às suas características. Camacho tentou adaptar os jogadores ao seu modelo de jogo e não adaptar o modelo de jogo aos jogadores de que dispunha. Perdeu por isso.

Quando uma equipa não joga como colectivo, com um modelo de jogo perfeitamente delineado, cada jogador sofre as consequências dessa desorganização.

Deixamos um Luís Filipe que tem dificuldades a defender à mercê dos avançados porque não se joga com extremos que fechem a ala direita, obriga-se o Rui Costa que devia ser poupado jogando numa parcela de terreno reduzida a fazer sprints durante 90 minutos, desaproveita-se o talento de um Di Maria porque o resto da equipa não abre linhas de passe e vê-se obrigado a insistir em acções individuais, coloca-se um Maxi Pereira a deambular em campo das alas para o meio campo, para o ataque, desaproveita-se um Makukula que é um jogador de área porque não há extremos para cruzar.

Uma série de erros que foram minando a equipa vítima de uma incompetência atroz do seu treinador.


De uma forma hábil Camacho soube sair novamente pela porta grande. Aproveitou (mais) um empate caseiro frente ao último classificado, nas vésperas da segunda mão da Taça UEFA (seria a primeira eliminatória a sério que perderia) para justificar que a sua capacidade para motivar os jogadores tinha terminado. Passou de incompetente para homem sensato que afinal colocou o clube à frente dos seus interesses pessoais.

Não escamoteando alguns aspectos negativos por parte da direcção do Benfica, sobretudo na falta de definição de um modelo e política desportiva Camacho é o grande responsável pelos desaires desta época.

Teimoso, resignado, incompetente.


Sin ganas no ganas nada.

1 comentário:

  1. Reconheço que este não é p Benfica a que milhões de sócios e adeptos estão habituados, a equipa anda a praticar um futebol miserável, que por vezes chega a dar-me sono, mas já não é de agora, há já alguns meses que o Benfica não dá prazer a quem vê os jogos da equipa. Mas por outro lado, digo com toda a sinceridade que nunca fui entusiasta do regresso de Camacho, porque vejamos, um treinador cujo unico titulo que detêm na carreira é uma Taça de Portugal e que questiono o seguinte: se é assim tão bom, porque razaão esteve tanto tempo sem clube???? Para mim não é um treinador vencedor, nem nunca o há-de ser! Meu rico benfica de 1994, e acima de tudo meu rico Toni ou Trappatoni, pelo mesno com esses tivemos a alegria de festejar titulos!
    André Carapeto

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