quarta-feira, 29 de agosto de 2007

SLB: Rei Morto, Rei Posto


Há muito que pairava uma onda de desconfiança pelas bandas da Luz.


Após a renúncia ao cargo de treinador, no final da época 2005/2006, por parte do Ronald Koeman (Holandês) , que havia sucedido a Giovanni Trapattoni (Italiano) e José António Camacho (Espanhol) a direcção do clube benfiquista decidiu apostar num treinador português.


A escolha para a época 2006-2007 acabaria por recair em Fernando Santos, um treinador experiente, profundo conhecedor do futebol português dado ter já treinado o Futebol Clube do Porto (1998-2001) e o Sporting (2003-2004).


Fernando Santos recebeu um Benfica que vinha numa senda de vitórias: Taça de Portugal (2004), Campeonato Nacional (2005), Supertaça (2006).


Fernando Santos trouxe consigo do AEK, seu antigo clube, Katsouranis, um jogador polivalente, campeão europeu de selecções pela Grécia. O clube da Luz assegurou igualmente o regresso do filho pródigo, Rui Costa e prolongou, por mais um ano, o empréstimo com Fabrizio Miccoli, avançado da Juventos. Embora com uma segunda linha de opções medíocre, este afigurava-se com um dos plantéis mais equilibrados do passado recente do clube.


A época começou mal para o treinador luso, com uma pesada derrota (3-0) imposta pelo Boavista, na segunda jornada da Liga. Seguiu-se um empate (0-0) na Fase de Grupos da Liga dos Campeões com o modesto Copenhaga. Após um inicio de campeonato trémulo a turma da Luz conseguiu uma série 21 jogos sem perder, registada entre 25/11/06 e 20/05/07, tendo porém registado 6 empates. O Benfica foi eliminado da Taça de Portugal, pelo Varzim, equipa da Liga de Honra. No plano internacional, a participação na Liga dos Campeões ficou aquém das expectativas. O Benfica não passou da fase de grupos. Relegado para a Taça UEFA, eliminou o Dinamo de Bucareste e o PSG tendo sido arredado da competição pelo Espanyol de Barcelona.


O saldo final da época, embora não sendo fracamente negativo, deixou um amargo de boca e a sensação de que mais poderia ter sido alcançado.


O Benfica foi, durante toda a época, uma equipa à imagem da personalidade do próprio treinador: retraída, conformada e pouco ambiciosa.


Mas as culpas não podem ser atribuídas inteiramente a um treinador benfiquista convicto e sócio do clube. A postura de Fernando Santos para com o clube foi sempre da maior integridade, mesmo nas alturas mais críticas. Apesar disso, Fernando Santos nunca conseguiu granjear do apoio dos adeptos, sendo insistentemente assobiado sempre que o seu nome era pronunciado nos altifalantes do Estádio.


Com a chegada de época 2007/2008 pedia-se a Fernando Santos mais. O plantel foi visivelmente reforçado. Bergessio, Oscar Cardozo, Fábio Coentrão, Marc Zoro, Butt, FreddyAdu, Di Maria e recuperou Nuno Assis após prolongado castigo. Apesar disso o Benfica fez uma pré-temporada ténue em que apenas conseguiu, em jogos amigáveis, bater o Sporting no Torneio do Guadiana.


A poucos dias do fecho das inscrições o Benfica perderia duas das suas pedras basilares para esta época. Simão Sabrosa transferiu-se para o Atlético de Madrid e Manuel Fernandes para o Valência. Terão sido estes dois momentos que marcaram a cisão entre treinador e a direcção.
«Perder Simão seria um pesadelo horrível» chegou a dizer Fernando Santos.


Em parte Fernando Santos tem razão. A má gestão desportiva do Benfica tem sido constante. As últimas épocas do Benfica têm-se resumido a pré-épocas e defesos repletos de contratações dúbias, de jogadores sem créditos firmados, que chegam quase no limite do fecho das inscrições e que não se conseguem afirmar. Em Janeiro, habitualmente chegam uns remendos para completar alguma lacuna.


Para 2007/2008, a direcção deveria ter preparado o treinador para a iminente saída do capitão Simão Sabrosa de forma a mecanizar a equipa e criar um esquema que pudesse debelar a sua ausência.


O presidente, Luís Filipe Vieira, acérrimo critico da politica de contratações das anteriores gestões do clube, nomeadamente da de Vale e Azevedo na qual criticava o facto de o clube contratar um "plantel por época", lembre-se que já vai em dez contratações nesta época. Dez contratações a conta gotas.


Com o regresso de José António Camacho, o Benfica recuperou um treinador em estado de graça, um homem rigoroso e que tem na determinação um ponto a seu favor. Mas o carisma não ganha jogos.


Camacho não poderá pedir tempo, terá de apresentar resultados.


quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Reportagem: Vias de Extinção


A investigação é a essência do jornalismo. O jornalismo vive dela, só assim consegue trazer até à hasta pública temas que constituam agenda, histórias arrebatadoras que rompam com a normalidade rotineira.


Infelizmente, para a classe jornalística, a concentração de media em grandes grupos económicos nem sempre é sinónimo de maiores meios. Pelo contrário, muitas vezes dá-se uma redução no tamanho das redacções. No fundo são menos a fazer o mesmo, por vezes, até a fazer mais.


Tomemos este exemplo a titulo de comparação. Num restaurante que sirva 300 refeições e que tenha 30 funcionários o cozinheiro chefe pode dar-se ao luxo de confeccionar refeições gourmet, mas se esse mesmo pessoal for reduzido para metade e a afluência de público se mantiver das duas uma: ou as refeições perdem algum requinte ou então, se houver uma insistência no padrão de qualidade. a
capacidade de produção da cozinha ir-se-á ressentir.


No jornalismo o mesmo ocorre. É impossível a um jornalista manter elevado o padrão do seu trabalho quando este tem que acumular o trabalho que, não fosse a lógica de redução de efectivos, seria desempenhado por vários jornalistas. Perante
este pressuposto a notícia passa a ser o género jornalístico com maior predominância, dado ser o mais rápido, o menos trabalhoso e o que acarreta menores custos para o órgão de comunicação.


Isto significa, pelo menos em Portugal, um jornalismo feito por uma agência e difundido para os subscritores do seu serviço de telex. Ou seja, estamos perante um jornalismo padronizado, em que todos usam a mesma fonte de informação e se limitam a alterar alterar expressões ou pincelam o artigo com informação de arquivo
que o próprio órgão dispõe.


Para que não restam dúvidas nada como exemplificar. Se a Lusa escreve "Museu Berardo chegou aos 100 mil visitantes no fim-de-semana" é provável que o titulo da mesma noticia num qualquer órgão de comunicação que a enquadre dentro dos mesmo padrões-noticia seja "Museu Berardo atinge 100 mil visitantes no
fim-de-semana". ou então "Lucro da PT subiu 6,9 por cento no primeiro semestre" versus "PT teve lucro de 6,9 por cento no primeiro semestre". Deixamos de ter jornalistas para termos correctores ou modeladores de texto.


Esta lógica capitalista de concentração de media estrangula o jornalista nas suas capacidades inatas e que, no fundo, são a sua marca distintiva relativamente a outros actores sociais: a perspicácia, a capacidade sensorial, a sagacidade na busca de informação.


Segundo uma entrevista que me foi concedida, em 2005, pelo Secretário Geral da Lusa, José Manuel Santos, estima-se que «no panorama nacional a informação de agência influencie 75% dos noticiários, sejam eles de televisão ou de rádio.». «Comprar um serviço da Lusa, pode representar o custo de serviço de um redactor sénior, mas pagando apenas o equivalente a um funcionário o órgão de comunicação terá um noticiário que 20 funcionários não produziriam em tempo útil.»



Já o aqui disse que a Reportagem é, por excelência, o género jornalístico que goza
de maior estatuto. Só ela permite romper com a lógica de mínimo denominador comum que impera nas redacções, conferindo ao jornalista maior liberdade de movimentos e, sobretudo, evidenciar as suas capacidade de observação, de interacção e de recolha de dados. Segundo Mar de Fontcuberta a reportagem «usa um estilo narrativo e criativo, está mais próxima da escrita literária. É um género escrito por um repórter que deve fazer uso das suas capacidades empíricas para mais bem traduzir todas as sensações vividas.»


Este ano li duas reportagens absolutamente fenomenais. A primeira editada na Visão nº 737 de 19 Abril de 2007 na qual uma jornalista (a faltar o nome) daquele órgão de comunicação viveu, durante uma semana inteira, numa das mais perigosas favelas do Rio de Janeiro, a favela de Rocinha.


A descrição é pura e dura. Chega mesmo a ferir as susceptibilidades daqueles que se consideram mais capazes. A onda de violência e crime nas ruas, o tráfico de droga, as zonas de domínio territorial de gangs, os requintes de malvadez dos homicídios, a incapacidade da policia penetrar nas ruelas estreitas, a convivência entre as pessoas da comunidade, tudo isso é brilhantemente descrito pela enviada especial. Sem dúvida um trabalho merecedor dos maiores galardões, um autêntico filet-mignon para a classe profissional.


A segunda, mais do que uma prova de competência profissional, é um exemplo inequívoco de heroísmo.


Imagine então um repórter infiltrado, munido de uma câmara oculta que, durante um ano, esteve infiltrado num dos grupos mais violentos existente na nossa sociedade.


Com a identidade encoberta pelo pseudónimo António Salas, um repórter espanhol, conseguiu, durante um ano, infiltrar-se no movimento neonazi espanhol. Dotado de uma capacidade invulgar de recolha de informação, o jornalista vestiu a pele de um autêntico skinhead. De blusão de couro, com suásticas ao peito e de cabelo rapado, António Salas soube ganhar a confiança dos membros mais influentes deste movimento (Teóricos, Presidentes de sociedades, webmasters, chefes de claques de futebol ou simples militantes) e conseguir captar todas as suas manifestações. O livro "Diário de um Skin" deixa patente o submundo do movimento nacionalista, a quase-divinização de Adolf Hitler, as ligações entre partidos políticos e clubes de futebol e o movimento skinhead, as ligações do movimento com os rituais de satanismo e paganismo e todas as manifestações sociológicas ligadas ao movimento.


O trabalho custará ao autor um cerceamento da sua liberdade. Dificilmente poderá voltar a sair à rua tranquilo sem que o espectro de represálias paire sobre ele. A reportagem custar-lhe-á a liberdade, o nome, a identidade. Mas para todos os que a lerem fica o registo de um dos melhores trabalhos jornalísticos jamais feitos.


Num próximo artigo analisarei mais pormenorizadamente o conteúdo da obra de António Salas.


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O Valor da Imagem


segunda-feira, 6 de agosto de 2007

TVI: Toca a Mudar


Os mais familiarizados com as insónias, aqueles que se encontram de férias ou simplesmente os notivagos já se terão apercebido de um novo programa nas madrugadas da TVI: Toca a Ganhar.


Numa altura em que as cadeias de televisão preparam a rentrée com apostas que se querem ousadas e inovadoras e num período em que as caras da estação gozam as suas férias, a TVI brinda-nos com (mais) um "enche-chouriços".


A receita é simples. Pega-se numa menina com ar apresentável e digitalizam-se aqueles típicos jogos de verão (Sudoku, Palavras Cruzadas) que nos preenchem o tempo enquanto estamos na praia e voilá, temos programa.


Para quem desconhece a apresentadora trata-se de Liliana Aguiar, ex-concorrente do Big Brother, um resquício dessa elite cultural que concorreu a esse saudoso programa. E a avaliar pelo comportamento da menina, os efeitos secundários de ter estado alheada de comunicar com o mundo exterior estão a evidenciar-se.


Em quase uma hora e meia de programa em directo a menina não se cala um segundo sequer, o número de telefone para o qual os concorrentes devem ligar é repetido até à exaustão, a apresentadora move-se persistentemente dentro do estúdio criando, inclusive, dificuldades de enquadramento para as equipas de filmagem e realização. Parece que a falta de comunicação se repercutiu em excesso de comunicabilidade, já diz o povo "não há fome que não dê em fartura"


Outro ponto que gostaria de sublinhar é a autêntica violação da língua portuguesa que a dita apresentadora faz. Os erros de concordância entre sujeito e verbo são imensos "o prémio SÃO de duzentos euros", "as respostas que já foram dadas FOI..". A apresentadora chega mesmo a estabelecer diferenças entre a palavra "Participante", segundo ela de género masculino e uma outra "Participante" passível de ser aplicada às concorrentes femininas.


Outro aspecto prende-se com o suposto "engodo" das chamadas telefónicas para o programa. Se fizer duas chamadas consecutivas para o programa os números que lhe são atribuídos são meramente aleatórios. Numa primeira chamada é-lhe atribuído , por exemplo, o número "50" e na chamada seguinte já é o "16". Ora, se os concorrentes são atendidos de cem em cem chamadas como explicar que a apresentadora passe, por vezes, mais de cinco minutos a suplicar por chamadas? Estranho não!?


Para aqueles que desconhecem o programa fica aqui um vídeo (que não é da minha autoria) que sublinha o ridículo em que, por vezes, a televisão portuguesa cai.